Palavras que Curam – O que Dizer e Não Dizer em Momentos Difíceis

Há algum tempo, tomava café com uma amiga que me falava da situação difícil que uma outra amiga enfrentava e de como tinha sido difícil gerir o momento, por não encontrar as palavras certas para lhe dizer. Falou-me da dificuldade, do desconforto, de como sentia medo de dizer algo errado que piorasse a situação ou que não fosse o que a amiga precisasse de ouvir. Perguntou-me, depois, o que se diz nesses momentos.

Lembrei-me automaticamente de um livro que tinha lido há alguns anos e que me tinha levado a uma reflexão profunda sobre como comunicamos nestes momentos mais complicados. O livro chama-se “Healing Conversations – What to Say When You Don’t Know What to Say” ( Conversas que Curam – O que dizer quando não sabe o que dizer ) Nance Guilmartin.

Foi a partir dessa conversa e deste livro que decidi escrever este texto, com o intuito de ajudar a preencher os vazios de comunicação que tendem a instalar-se nestes momentos mais difíceis e a tentar que as suas palavras possam ser sentidas, pelo outro, de forma segura e apoiante.

Quando alguém partilha connosco algo profundo e percebemos que está em sofrimento, acontece mais facilmente começarmos a falar de forma desenfreada e descontrolada, sem estarmos muito cientes do que dizemos verdadeiramente. O outro lado deste descontrolo pode, também, levar a um silêncio desolador o qual não vai, certamente, ao encontro das nossas intenções. Seja qual for a forma, parece que o resultado nunca serve o propósito inicial.

“Como será que podemos ter conversas a partir do coração e não apenas da cabeça? Como será que podemos estar nestas conversas inteiros – corpo, mente e alma? Como podemos aprender a estar com o desconforto do outro, de uma forma que o conforte, seja qual for a sensação de estranheza que a situação provoque, neles ou em nós? Conseguiremos escutar por entre as camadas do que o outro está a sentir? Do que nós próprios estamos também a sentir?

Para muitos de nós é difícil presenciar a dor ou o desconforto do outro e a tendência é, quase de seguida, querer resolver a situação de forma que traga alívio imediato a quem sofre. Outros, para evitarem o risco de dizer algo errado, acabam por dizer nada.

“A arte de conversar não está apenas em saber dizer a coisa certa, no momento certo mas também em não dizer a coisa errada nos momentos tentadores”.

Não se enganem, existirão dias em que não conseguirão desempenhar a tarefa de ouvir sem julgamento ou de confortar. De igual forma, também existirão momentos em que não se sentirá capaz de receber apoio, apesar das melhores intenções de outros.

Estes são os momentos em que aprendemos que “conversas que curem” vão muito além de corações e flores. É preciso mais do que isso para ultrapassar tempos difíceis. É preciso trabalho, é arriscado e, acima de tudo, é necessário que se comprometa a escutar (o silêncio, a dor e a esperança escondidos nas palavras). Escutar onde o coração vive. Lembrar, sempre, que durante esses momentos em tentamos ajudar, ou pedimos ajuda, seguramos o coração de outros nas nossas mãos.

Não existe uma única forma e estratégia de comunicar e estar com o outro, que permita que a pessoa se sinta verdadeiramente acolhida e apoiada mas, sem dúvida, um dos factores mais importante na relação com o outro é a capacidade de aceitação.
Sem aceitar o outro, com tudo o que ele traz, não existe terreno fértil que permita um nível de conexão e profundidade que promova a escuta verdadeira e o sentir a necessidade do outro.

Quando encontramos alguém num momento de choro, tendemos automaticamente a dizer-lhe para não chorar. Porque não? Se alguém está num nível de tristeza tal, que transborda ao ponto de soltá-la fisicamente, através do choro, porque dizer para não chorar?
O choro é um reflexo natural do corpo, é um movimento que permite libertar tensão e stress. Chorar, de forma intensa, alivia a alma, o coração e o corpo.

Talvez da próxima vez que vir alguém chorar, possa reposicionar-se, perceber que, provavelmente, a dificuldade em ver o outro chorar é sua e não do outro, e apoiá-lo, validando o que sente, mostrando que percebe a sua dor, que é um momento difícil e que está ao seu lado.

Um outro movimento que é frequente é o de tentar passar a ideia de que “tudo vai correr bem”. Na realidade, nenhum de nós sabe o que o futuro reserva e, como tal, dizer a alguém, no momento de dificuldade, que tudo vai correr bem, não só é inútil, como tende a ser desvalorizado por quem o escuta.
Em vez de “tudo vai correr bem”, experimente dizer que não sabe o que vai acontecer mas, aconteça o que acontecer, estará com a pessoa, ao seu lado, e terá o seu apoio.

Não desvalorize a dor do outro. Por vezes, cedemos à tentação de avaliar a situação que o outro vive, em função das nossas capacidades, recursos e à luz da nossa própria experiência.

Cada pessoa é única, tem uma história só sua, que impede que todos olhemos o mundo da mesma forma. O que parece ser óbvio e simples para si, não é necessariamente óbvio e simples para o outro.

Se lhe diz que não é caso para tanto, que a situação não é motivo para choro, ou que está a exagerar, do outro lado isto é sentido como desvalorização e incapacidade de compreender o que o outro sente. Provavelmente, esta pessoa receará partilhar consigo a sua fragilidade num momento futuro e não terá contribuído em nada para a ajudar.

Talvez a mais célebre deste tipo de respostas automáticas seja o dizer a alguém para se acalmar, quando ela está claramente exaltada. Em algum momento que se sentiu exaltado, o facto de alguém o aconselhar a acalmar ajudou? Certamente que não. Ao invés de dizer à pessoa para se acalmar, tente dizer-lhe que a compreende, que percebe a sua exaltação. Diga-lhe que percebe que é difícil e que vê como está afectada com a situação. Este movimento, terá um efeito mais tranquilizador do que dizer-lhe para se acalmar.

Antes de deixar os seus automatismos tomarem conta da sua resposta, tente perceber o que gostaria de ouvir e não ouvir, se estivesse num momento difícil.

As suas palavras, se forem reflectidas e ligadas à necessidade do outro e não à sua incapacidade de estar com a dor do outro num momento difícil, podem ter um resultado mais positivo, tranquilizante e até curativo.

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