O Que é Isto da Felicidade?

Não há resposta que me tenha sido dada tantas vezes como esta que me respondem quando pergunto sobre as expectativas que cada pessoa tem quando procura a minha ajuda; quero ser feliz. E, de todas as vezes, acabamos comigo a questionar a pessoa sobre o que entende por Felicidade e a tentar reajustar as expectativas da pessoa à realidade. Claro que, inevitavelmente, há sempre alguém que acaba por me perguntar sobre o que eu considero ser a Felicidade e, aí, a resposta não é simples.

Na realidade, é simples no sentido que sei o que responder naquele momento, de forma adequada às necessidade de cada pessoa, no entanto, não deixa de ser um momento em que eu própria acabo por reflectir sobre o significado de Felicidade.
A verdade é que não me parece que possamos definir Felicidade de forma fechada e concreta. Parece-me, que a Felicidade é mais um estado de sentir, de existir, do que necessariamente algo que se possa conquistar ou alcançar permanentemente.

Então, se não é algo concreto e palpável que possamos atingir, o que poderemos fazer para nos sentirmos felizes?

Quando faço esta pergunta, não consigo deixar de pensar no que nos faz sentir infelicidade e em todas as partilhas e histórias sobre pessoas que se sentem infelizes. Existem, parece-me, mesmo no meio de histórias diversas e completamente diferentes, factores que parecem ser transversais. De forma geral, as pessoas querem sentir-se amadas, aceites, validadas. Querem sentir que a sua vida tem um significado e que a conseguem apreciar.

Assim sendo, o que estará na raiz da Infelicidade?

Expectativas. Talvez faça sentido começar por aqui e perceber se muitas das expectativas que temos serão adequadas e realistas ou, pelo contrário, continuarão a gerar resultados que nos fazem permanentemente sentir desiludidos.
Da (des)ilusão darei aqui o significado mais corrente de qualquer dicionário e que me parece bastante esclarecedor por si só: “Engano dos sentidos ou pensamento; O que se nos afigura ser o que não é; Esperança irrealizável”. Diria que, permanecer num engano constante e sem esperança de se realizar, possa contribuir largamente para a sensação de infelicidade. Um bom contributo para uma vida com menos desilusão passa, certamente, por se conseguir avaliar expectativas e trabalhar no sentido de as reajustar, de forma mais adequada, à realidade.

Adaptação / Flexibilidade. Sabemos que a rigidez e a inflexibilidade são características fortemente ligadas aos comportamentos mais disfuncionais. Por muito que tenham servido um fim adaptativo em algum momento, é de extrema importância encontrar outras formas de resposta que lhe permitam sentir-se igualmente seguro mas mais aberto a poder fluir e adaptar-se ao que a vida lhe traz.
A propósito da sua rápida capacidade de resposta física em combate, Bruce Lee respondia frequentemente algo do género: “não se coloque dentro de uma forma, adapte-se (…) Se colocarmos água num copo, ela torna-se o copo. Se colocar água numa garrafa, ela torna-se a garrafa. A água pode fluir ou pode colidir. Seja como a água.”

“A capacidade de suportar o desprazer e a dor, sem se tornar amargurado e sem se refugiar na rigidez, anda de mãos dadas com a capacidade de sentir felicidade e dar amor. ” Willhelm Reich

Aceitação. Infelizmente, estamos pouco habituados a pensar em aceitação e validação como algo necessário ao bem-estar, no entanto, estes dois factores (ou a falta deles) estão na base da construção de uma auto-estima forte e de um auto-conceito positivo sobre si mesmo.
Uma criança que cresce a ser criticada constantemente, sente que falha em tudo o que faz, que é desadequada e não tem oportunidade de desenvolver um sentido coeso e forte em relação às suas capacidades e à sua identidade.
Provavelmente, o resultado será um adulto que sente que não pode ser quem ele é realmente, que desenvolverá um sentido de auto-crítica demasiado exigente, uma auto-estima fragilizada e uma constante sensação de insegurança e apreensão em relação à vida e à sua capacidade para lidar com as dificuldades inerentes.
Desenvolver esta capacidade de aceitação pode produzir um impacto bastante significativo na forma como sentimos a vida acontecer e como nos sentimos preparados para lidar com o que quer que seja que a vida nos possa trazer.
Aceitar passa, também, por se ganhar consciência em relação ao nosso mundo interno, conseguindo ficar em contacto com cada emoção e sentimento, transformando-os em algo mais construtivo e com mais significado.

“Sentir-se real é mais que existir, é encontrar uma forma de existir em si mesmo, para se religar aos outros enquanto você mesmo e ter em si um local no qual se pode refugiar com a finalidade de se sossegar.” Donald Winnicott

Existirão, seguramente, muitos outros factores e dimensões que podemos associar ao que pensamos ser a Felicidade mas, de forma geral, diria que estes me parecem ser pontos estruturantes na forma como cada um sente e aprecia a vida, e encontra, ou não, um significado para ela.

0 Comments

Enviar um Comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Outros Artigos

Teoria Polivagal – A Ciência da Conexão e da Segurança

Teoria Polivagal – A Ciência da Conexão e da Segurança

A Teoria Polivagal foi desenvolvida nos anos noventa por Stephen Porges, que estabeleceu uma ligação entre a evolução do Sistema Nervoso Autónomo dos mamíferos e o comportamento social, realçando a importância das activações fisiológicas do organismo, na expressão de...