Dizer Não a Um Filho é Uma Forma de Amor

Dizer não a um filho é, para alguns pais e educadores, uma das coisas mais difíceis de fazer.

O ritmo a que vivemos hoje a vida, por si só, coloca-nos uma série de constrangimentos e dificuldades, que levam a que tentemos aproveitar todos os momentos com os filhos, tentando muitas vezes compensá-los de alguma forma pela nossa ausência. Uma das formas que usamos para essa compensação é, por vezes, não dizer não em momentos cruciais, para não promovermos momentos de stress ou frustração, no pouco tempo que temos com eles.

Se por um lado é importante que o tempo que temos com os miúdos seja de qualidade, por outro, é igualmente importante percebermos que qualidade não significa apenas rir e diversão. É importante rir mas é também importante aprender a lidar com a frustração e as dificuldades e, se não aproveitamos os momentos que estamos com eles para os ensinar, ajudar a lidar com estas dificuldades, estamos a perder oportunidades de crescimento importantíssimas, quer para nós como pais e educadores, como para eles.

Dizer não é, também, uma forma de Amor. É um presente que oferecemos às nossas crianças disfarçado de segurança, tranquilidade e espaço para existirem com todas as suas emoções. Quando um adulto consegue lidar com as dificuldades da criança, devolve-lhe a oportunidade de experimentar um espaço em que se sente seguro, para o qual a criança sente que pode levar tudo o que tem e que o adulto consegue aguentar, sem vacilar. Dizer não de forma firme e tranquila é dar à criança o tal porto seguro de que tanto precisa para se desenvolver de forma saudável e adaptada.

A este propósito deixo um texto de Donald Winnicott, sobre a importância de dizer não e a sua ligação ao Amor.

Eu coloco-te limites porque te amo.
Primeiro e obviamente, estou interessado na tua segurança física. Segundo, mais cedo que tarde, vais chegar a um mundo onde não terás tudo o que queres, quando e como quiseres. Prefiro ser eu a ensinar-te a lidar com a frustração.
Eu coloco-te limites porque eu me amo.
Quero poder virar o olhar sem morrer de preocupação.
Os teus pais são a pedra sobre a qual constróis a tua casa.
Se a pedra falir, a casa cai. Quero que sintas e saibas que podes pisar firme… Grita, chuta, transborda-te… a mãe e o pai ainda estão aqui e amam-te na mesma.
Aquele que muito aperta, pouco abrange.
Poucas regras bem postas, tudo o resto é negociável. Se for uma regra, tentarei com todas as minhas forças ser consistente, assim sempre saberás o que te manter. Se for negociável, aprendamos juntos a ganhar um pouco e perder um pouco, servirá muito depois na vida.
Tenho de te fazer muitas perguntas.
É melhor que o limite venha do teu próprio raciocínio, que pratiques a partir de agora a distinguir o que te convém do que não te convém.
“NÃO” não é um comportamento, devo dar-te uma alternativa.
Em vez de ” não corras ” é preferível dizer-te ” dá-me a mão para caminharmos juntos “.
Ainda bem que queres experimentar o teu “poder”.Às vezes podes ganhar, reforça sua auto-estima.
Grita “PAZ”.
Quando perderes o controlo, e principalmente quando eu sinto que perco o controlo, gritemos paz, respiremos e contemos até dez. Quando estivermos mais tranquilos, sempre poderemos conversar. Somos uma equipa, com certeza podemos encontrar uma maneira de nos entendermos.
Tenho que manter o teu tanque cheio.
Assim como os carros funcionam com gasolina, os filhos funcionam com amor. Tenho de manter o teu tanque cheio para que no momento de uma crise tenhamos algo sobre o que funcionar. Esta é uma regra para a mãe e para o pai: nunca, nunca deixar que o teu tanque esvazie.

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