As bases da depressão remontam à infância e à relação com os pais ou cuidadores. A relação entre a mãe e o bebé é de extrema importância porque é uma relação de profunda conexão corporal, que começa desde a gravidez e se estende ao período de amamentação, aos cuidados primários e à apresentação do bebé ao mundo. A mãe é o primeiro elemento de ligação do bebé com o mundo, é através dela que ele vê o mundo e que se vê a si próprio. Se nesta fase o bebé for exposto á ausência de contacto físico, se não for tocado, olhado, nutrido e acarinhado, a sensação que desenvolve é de que o mundo é também ele um lugar frio, inseguro, desconfortável e sem afectos. O contacto corporal com a mãe permite à criança estar em contacto consigo próprio, com o seu self corporal. Sem esse contacto, a criança retrai-se e afasta-se do mundo. A perda do contacto com a mãe é a perda de si próprio, do funcionamento do seu corpo e de toda a sua vitalidade.
Esta perda é uma das bases para a reacção depressiva e encontra-se frequentemente em pessoas que experienciaram uma infância com pouco afecto maternal e que não viram as suas necessidades primárias satisfeitas ( sentir contacto físico, sentir-se seguro no colo, sentir-se quente e confortável, sentir-se amado e desejado ).
A atenção e cuidado materno para o bebé, o estar com ele, dar-lhe colo, aquece-lo, acarinhá-lo são essenciais para a construção de uma psique saudável. Quando isto é negado, o resultado é a construção de um ego frágil e debilitado que, na idade adulta, se pode transformar em dificuldade de estar sozinho, ansiedade de separação, comportamentos dependentes e uma constante necessidade de ser o centro da atenção.
Quando um bebé deprime, afasta-se do mundo. Quando um adulto deprime fica imobilizado, sem força para responder a desejos e sem vitalidade e energia para levar a cabo mesmo as tarefas mais rotineiras. Instala-se um sentimento forte de desesperança, de derrota e a pessoa não encontra razão para fazer nenhum movimento.
Há uma diferença estrutural entre tristeza e reacção depressiva. Uma pessoa pode sentir-se triste mas nem por isso imobilizada, sendo capaz de falar sobre essa tristeza e o que sente. Uma pessoa deprimida tem dificuldade em fazê-lo.
O corpo é movido por uma quantidade de carga energética que coloca em funcionamento os tecidos e músculos do corpo que permitem sensações e sentimentos, pulsações que vêm do interior do organismo. Na depressão o organismo não tem força, os seus impulsos e sentimentos estão reduzidos, o que resulta numa inacção para o exterior. A neutralização dos impulsos é o que está na base de todos os movimentos depressivos.
Para o fazer, a pessoa adormece-se, reduzindo a sua vitalidade, limitando os seus movimentos e respiração, o que se traduz em menos energia no corpo e menos capacidade para formar novos impulsos.
Trabalhar a depressão no corpo é, primeiro que tudo, acordá-lo, devolvendo-lhe a capacidade de gerar novos impulsos e, consequentemente, voltar a sentir sensações e sentimentos para que seja possível, no aqui e agora e num lugar seguro, dar significado às experiências que estão na origem desse movimento depressivo.
Referências Bibliográficas:
Lowen, A. O corpo em depressão: as bases biológicas da fé e da realidade. São Paulo: Summus, 1983
Navarro, F. Somatopsicopatologia. São Paulo: Summus, 1996
Volpi, J. H. & Volpo, S. M. Crescer é uma aventura! Desenvolvimento emocional segundo a Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2002
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