“Nada lhe posso dar que já não exista em si mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que existe já na sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.” Hermann Hesse
Sempre que me perguntam o que é a Psicoterapia, lembro-me desta frase de Hermann Hesse, motivo pelo qual me parece justa a sua referência neste texto.
Existem frases, ideias, que repito frequentemente durante as sessões de psicoterapia e uma delas é, sem dúvida, que “não acredito que algo do que eu possa devolver ou ajudar a pessoa a reflectir em sessão, lhe seja totalmente novo ou desconhecido.” Acredito, sinceramente, que não sei mais sobre aquela pessoa, que ela própria. Como poderia saber?
O que fazemos, em conjunto, em Psicoterapia, é criar um espaço de confiança, seguro e neutro, no qual a pessoa sinta que pode permitir-se pensar e sentir de uma forma que anteriormente não lhe tinha sido ainda possível. Em Psicoterapia, constroem-se pontes para lugares internos, longínquos, para os quais a pessoa tinha esquecido o caminho e, em conjunto, sentindo-se apoiada e segurada, pode tentar voltar a eles. Claro que esse caminho tem pedras, aliás, pedregulhos, mas o caminho faz-se em pequenos passos, na medida da vontade e capacidade de cada pessoa. Pedra a pedra, caminho a caminho, vai sendo possível à pessoa que faz psicoterapia, voltar a visualizar um mapa que lhe permite (re)descobrir mais sobre si e sobre os vários caminhos, já percorridos e por percorrer.
Claro que, existem factores essenciais a um processo psicoterapêutico e um deles é, certamente, a vontade da pessoa para percorrer esse caminho. Sem essa motivação, qualquer processo psicoterapêutico está condenado ao insucesso.
Na maioria das vezes que me chega alguém ao consultório que vem por vontade de terceiros, fica rapidamente claro que o processo não tem grande futuro. Podemos, obviamente, continuar a ver-nos semanalmente indefinidamente mas nenhum terapeuta consegue fazer acontecer o que a própria pessoa não quer que aconteça. Existem excepções, é verdade, como em todas as regras. Pode acontecer, ( já aconteceu) a pessoa descobrir que é algo que quer tentar fazer.
Outro factor essencial em Psicoterapia é a relação terapêutica, motivo pelo qual tantas vezes repito a quem me procura ou mesmo a amigos e conhecidos que pretendem iniciar um processo psicoterapêutico; percebam, sintam se aquela pessoa que está à vossa frente é alguém com quem querem / conseguem realmente fazer este caminho. Se não o sentirem, procurem outro terapeuta.
Reunidas as condições, a Psicoterapia é um processo que permite a cada pessoa um maior auto – conhecimento e uma expansão da consciência de si, identificando padrões mais desadaptativos que podem produzir impacto negativo e dificuldades na vida diária. Reflecte-se sobre novas possibilidades de pensamento e acção, que mais beneficiem a pessoa e que podem ser experimentadas num espaço seguro, como se de um laboratório experimental se tratasse. No seu tempo e momento, será mais fácil à pessoa experimentar essas novas possibilidades no mundo exterior, com confiança e segurança.
Em Psicoterapia, cria-se, desenvolve-se e cresce-se, tal como a criança que descobre o mundo e precisa de apoio e segurança para o fazer de forma adaptada e com sucesso, com vista à sua autonomia.
0 Comments